

Depressão em idosos – impacto clínico e social
A depressão em pacientes idosos costuma ser pouco diagnosticada apesar de ser uma questão importante de saúde púbica. Esse problema surge em parte da crença popular de que a tristeza faz parte do envelhecimento normal, o que não é verdade. Obviamente, alguma melancolia é até mesmo esperada depois de situações adversas que são comuns na terceira idade – como a perda de familiares, dificuldades financeiras, doenças físicas – entretanto, o transtorno depressivo verdadeiro é um conjunto de sintomas diferentes, mais intensos e prolongados, que trazem consequências graves como o aumento da chance de morte pelas mais diversas causas clínicas nessa faixa etária.

Magnitude do problema
Segundo dados do IBGE de 2013, os idosos são a maioria dos 11 milhões de brasileiros com diagnóstico de depressão. Infelizmente, são poucos os estudos nessa população, apesar do alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o aumento das taxas de suicídio em idosos, com vulnerabilidade principalmente entre os homens.
A ocorrência é maior em quem sofre de doenças clínicas, como diabetes e artrose, e com isso esse transtorno aumenta as limitações já trazidas por esses problemas. Em vítimas de AVC, infarto do miocárdio e câncer, a prevalência pode chegar a 30-40% e pode prolongar internações hospitalares, além de resultar em maior necessidade de atendimentos com outros especialistas. A mortalidade pode aumentar de três a quatro vezes nesses contextos, com possibilidade de atenuação desse impacto com o tratamento das alterações psiquiátricas
Sintomas e diagnóstico
Devido a essas associações, os idosos frequentemente manifestam depressão com aumento de queixas físicas como fadiga, lentificação motora, perda de apetite, alterações de sono, redução de libido e queixas de esquecimento. Muitas vezes os pacientes são tratados com medicações ansiolíticas, o que pode resultar em aumento do risco de quedas e prejuízo de memória e atenção.
As queixas relativas ao raciocínio e capacidade de pensamento, aliás, são comuns nesses quadros e podem levar inclusive ao diagnóstico inadequado de demência, como a Doença de Alzheimer. A relação entre depressão e a capacidade de formar e retomar lembranças é complexa, já que a depressão muitas vezes precede os quadros demenciais, o que pode tornar difícil a diferenciação entre transtorno originalmente psiquiátrico e doenças neurodegenerativas. Quando o prejuízo de memória é atribuível apenas às alterações do humor, os déficits revertem quando é realizado um tratamento antidepressivo bem-sucedido.
Nesse grupo etário, os critérios diagnósticos habitualmente utilizados para pacientes jovens podem ser insuficientes, já que idosos frequentemente apresentam menos sintomas clássicos, apesar de sofrerem consequências iguais ou até maiores.
Sobre as causas e mecanismos da depressão
A maior parte dos idosos que passam por doença física séria não fica deprimido. Eles podem ter fatores psicológicos que até mesmo os protegem da depressão. É frequente que enfoquem sua visão no tempo restante de vida em vez das experiências passadas. Não raro, têm a percepção de que estão vivendo até mais do que deveriam e por isso privilegiam objetivos emocionalmente importantes e desenfatizam eventos negativos. A sabedoria acumulada durante a vida pode atenuar a repercussão de acontecimentos adversos.
O mecanismo de desenvolvimento da doença muitas vezes não é claro, e na maior parte das vezes, inclui uma associação de vários fatores. A predisposição hereditária é menos relevante na depressão de início tardio, porém pode ser importante em alguns casos. A presença de outras doenças, inclusive os outros transtornos psiquiátricos, aumentam a chance de depressão. A falta de suporte social e financeiro, além de situações estressantes, pode ser contribuinte. Além disso, pesquisas indicam que danos em áreas especificas do cérebro por neurodegeneração ou isquemia estão implicadas em alguns tipos de depressão, apesar de não existirem exames biológicos que confirmem esse diagnóstico.